NÓS

Juntos, somos mais de 20 pesquisadores associados à Fiocruz que se afetaram pela agudização do sofrimento que atravessa o cotidiano dos serviços e do trabalho em saúde. Entendemos que a angústia e o esgotamento que hoje sentem os que ocupam postos em hospitais, unidades básicas, ambulatórios, consultórios, ambulâncias, recepções e etc. não são simplesmente “dores da alma de cada um”, mas consequências de um mundo que valoriza individualidades e tenta apagar as evidências de que somos sempre em relação ao outro e interdependentes uns dos outros.

As dificuldades, o excesso, a insegurança, a desproteção, os riscos, os adoecimentos e as inadequadas condições do trabalho em saúde não são novidade na vida dos trabalhadores. Contudo, na pandemia de Covid-19 esses processos foram intensificados. Nesse sentido, o Projeto Respiro foi pensado para compreender as atuais dimensões das penosidades e dificuldades enfrentadas pelo trabalhador da saúde em tempos tão desafiantes, ao mesmo tempo em que apoiá-los por meio de práticas coletivas, como é o caso das nossas rodas de conversa, cursos, grupos de estudos e ciclos de cuidado e meditação.

Diante da impossibilidade de seguir com as atividades presenciais, abrimos nossos espaços online para interagir com os trabalhadores da saúde. Nossas partilhas são realizadas no Instagram; no canal da VideoSaúde no Youtube, distribuidora audiovisual da Fiocruz, na nossa sala privada do Zoom e aqui, nesse site que chamamos de Plataforma Respiro. Nossa intenção é promover encontros que sejam acontecimentos extraordinários, pausas conscientes e necessárias para respirar e construir juntos vislumbres e caminhos de para um mundo melhor.

O Respiro existe como projeto de apoio às trabalhadoras e aos trabalhadores da saúde para dizer: “ei, você não está sozinho e vamos passar por isso juntos!”. Nosso compromisso é permanecer aqui, compartilhando saberes e práticas que apoiam a travessia de incertezas, tristezas, alegrias, sonhos e desejos. Somos um lugar para RESPIRAR coletivamente, inspirando ares de um mundo doente, mas exalando pronúncias de uma vida melhor. Nos propomos a sonhar e a construir coletivamente possibilidades de um novo modo de existir.

Com os trabalhadores no centro de nossas práticas e reflexões, nos organizamos em 7 grupos de trabalho, representado por 7 cores e que se dedicam a apoiar e a investigar mais de perto 7 dimensões do trabalho em saúde associadas à insurgência de penosidades e (re) existências no cotidiano dos serviços.

Em todas essas cores, por meio do apoio-investigação, o Respiro busca (re) construir a reflexão sobre o mundo, a escuta, as possibilidades de olhar o outro mais atentamente, a descoberta de recursos internos, as crenças compartilhadas e as redes de apoio.

Reflete sobre o modelo de sociedade atual e as formas como os modos de existência contemporâneos afetam a vida e o trabalho. Coloca em tela as reflexões que os trabalhadores da saúde fazem sobre o trabalho na sociedade, os valores, os sentidos e as formas de estar no mundo.

Abarca a adoção de políticas sociais regressivas e de políticas de saúde no cotidiano do trabalho em saúde, que perpassam os modelos de incorporação e gestão; os valores atribuídos aos salários; as jornadas; e os processos de contratação. Importam os aspectos identificados pelos trabalhadores que associados configuram o processo de precarização social do trabalho em saúde.

Está atento às dificuldades relacionadas à ambiência, organização e relações nos espaços de trabalho e que compreendem as pressões e os constrangimentos presentes no dia a dia do cuidado. Abrange as circunstâncias que geram sofrimento e nas quais são experienciadas as desigualdades ocupacionais; as hierarquias e segregações entre e intragrupos ocupacionais; a falta de medidas de proteção; e a estigmatização e exclusão de trabalhadores da saúde.  

Compreende os dilemas associados aos saberes e às práticas acionados pelos trabalhadores de saúde para lidar com o trabalho e a realização de suas atividades. Envolve as demandas, insuficiências e ausências de qualificação e formação dos trabalhadores e de suas equipes, bem como as inseguranças relacionadas aos processos de trabalho e à vida.

Capta os ruídos associados à experiência e à construção imaginária da ocupação, às questões de identidade e de reconhecimento, ao pertencimento e ao sentido do trabalho e à conformação de trajetórias ocupacionais e às aspirações. Se dedica aos testemunhos do trabalho em saúde em perspectiva histórica e suas rememorações com o tempo presente, representações simbólicas, memórias e ideias de futuro.

Engloba os sofrimentos relacionados às exigências do trabalho que afetam a vida em suas múltiplas dimensões, com impactos na saúde no trabalhador, e que compreendem processos de desgastes e adoecimentos e outras expressões coletivas.

Acolhe as dificuldades relacionadas à falta de tempo e de espaços de reflexão para o reconhecimento que o trabalhador precisa de cuidado, o que está associado à banalização das contradições que nos afetam e como os trabalhadores percebem ou não seus limites e seus desejos. Reconhece que são tensões que merecem cuidado o sono, a alimentação, o exercício, o descanso e as pausas.